Comunicação Não-Violenta e a metáfora da girafa e do chacal
Quando comecei a estudar CNV, assisti primeiramente os vídeos do psicólogo Marshall Rosenberg no YouTube e achei bem intrigante e excêntrico vê-lo com fantoches para falar sobre comunicação não violenta. Foi o primeiro contato que tive com a girafa e o chacal que habita em todos nós. Para mim, fez muito sentido e me permitiu compreender de forma simples, clara e precisa como podemos nos comunicar com o mundo de forma empática ou hostil.
A CNV se baseia em habilidades de comunicação e linguagem, que possui como foco principal a conexão autêntica entre as pessoas, preservando a nossa capacidade de continuarmos humanos. Ela nos ajuda a preservar a consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando enquanto nos comunicamos. A esse processo damos o nome de comunicação consciente ou compassiva, por ser sustentada pela honestidade e empatia, com si mesmo e com o outro. Marshall decidiu usar a metáfora da girafa e do chacal para explicar como as nossas palavras, ações e intenções podem contribuir para a vida ou nos distanciar dela. À medida que escolhemos expressar nossas necessidades pela via do coração ou do julgamento, optamos por ser "girafa" ou "chacal."
A girafa é o mamífero terrestre com o maior coração. Seu longo pescoço oferece proteção ao permitir que ela possua a habilidade de ver longe no futuro, de alcançar coisas que são inatingíveis para outros e de permanecer fora de intrigas. Para que o sangue suba até a cabeça da girafa, seu coração tem que ser 43 vezes mais forte do que o do ser humano. Com um coração assim tão forte, a girafa ilustra na CNV a linguagem do coração, uma forma de se comunicar com o olhar mais amplo para as situações, desprovido de juízo de valor, apenas observando com empatia e uma conexão afetuosa. O propósito da linguagem girafa é criar uma qualidade de conexão para que possamos DAR (expressar as necessidades de forma compassiva e harmoniosa) e RECEBER (estar na presença das emoções negativas do outro, sem ser atravessado por elas, permanecendo em postura compassiva). Assim, escutar a dor do outro de maneira empática, ajuda a compreender o que está presente, para além da sujeira da mente da pessoa.
O chacal é um animal predador, agressivo, pertencente à família das raposas. Possui um uivo que pode ser bastante incômodo para as pessoas, pois o som lembra um grito alto ou uma sirene. A metáfora do chacal representa o olhar raso sobre as coisas, a comunicação com pouca conexão, pouca amplitude e pobre de compreensão. É uma linguagem que bloqueia a conexão entre as pessoas, assumindo a forma de julgamento moralista, uma comunicação focada em avaliar o que está certo ou errado, o que é bom ou mau, correto ou incorreto. O objetivo da linguagem chacal é criticar, julgar, achar que sabe o que está acontecendo dentro do outro, interferindo em sua autopercepção. Neste tipo de linguagem, muitas vezes nos portamos como vítimas e insistimos para que nossas necessidades sejam atendidas, sem considerar as necessidades do outro, tornando-se uma comunicação pautada na exigência e desprovida de empatia. Assim, a motivação da linguagem chacal acaba sendo o medo, a culpa, a vergonha, o dever, a recompensa, a punição. E essa comunicação conduz normalmente a formas de relacionamento mais desgastantes, mais divergentes e mais hostis.
A CNV nos convida à reflexão:
Em nosso processo de comunicação, em que situações somos motivados pela linguagem girafa e pela linguagem chacal?
Quando nos expressamos, levamos em consideração as necessidades e sentimentos do outro ou focamos apenas em nós mesmos?
Para Marshall Rosenberg, somos seres naturalmente compassivos, mas que fomos aprendendo a nos comunicar com violência visível e invisível, onde o julgamento tomou o lugar da empatia, onde as nossas necessidades se tornaram mais importantes que a do outro. A CNV é uma proposta que nos convida a resgatar a amorosidade e o desejo genuíno pelo bem comum, é a comunicação a serviço da vida. O que o autor nos propõe com a CNV é "uma vida com compaixão, um fluxo entre si e os outros, com base numa entrega mútua, do fundo do coração." Essa entrega pelo coração enriquece a conexão interpessoal, beneficiando quem doa e quem recebe. É a linguagem girafa, ajudando a silenciar o nosso chacal, fazendo brotar amorosidade, acolhimento, honestidade e empatia na relação.
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